A pena e a lírica
Sou ausências das vontades vãs
Essências vazias de atavios
Nonsências sem tidos meus
Sou a lírica sem a pena
A lírica caótica, rainha amarela
O silêncio em meio a orquestra cotidiana
A alma velha a soluçar solteira
Sem pena que lha imprima
Um barco sem vela, sumindo mar a dentro...
Sou a lírica sem lugar, singular na multidão
Mal amada, mal acabada, um aborto!
A lírica cuja pena morreu a muito
Uma menina órfã caminhando sobre escombros
Sou o nada, a coisa nenhuma, o não-ser
Sou a neta cuja filha da mãe foi amaldiçoada pela avó.
Sinto falta da pena, da mão, do tinteiro
Sinto o cheiro do velhíssimo papiro
Sinto saudades que não são minhas
Sinto vidas que já me foram
Sinto que agonizo, que suspiro, AINDA!