Morre uma parte de mim
Quem és tu que eu vejo adiante?
Que me encerra em vazo de diamante?
E não me deixa sair a passear?
Leva os sonhos pro fundo do mar?
Que espera com meu aprisionamento?
Senão o ódio e sincero lamento?
Quisera a morte ser mais forte que tua garra.
Mas não, é tua ânsia que me amarra.
De fato falta me sentir, sentir, sentir...
Já que em mim mesmo não posso ir.
Depois me deito e vejo num canto meu eu
Ali intacto como quem já morreu.
Quem és tu que não vejo adiante?
Que me encerra em vazo de diamante?
Pobre homem que não tem limites.
Do valor demais a seus palpites.
É a névoa da minha má sombra.
A inércia de viver, o fantasma que me zomba.
Sou eu mesmo a mão que me derruba
Verte de mim mesmo agua de minha tumba
Eu não me sirvo mais, sou pesada mala
Vaso morto que apodrece em vala.
Descoberto o vil, o vaso de diamante.
Mato-o, quebro-o, oh parte errante.
E estou livre de antigas garras
Quebram se então todas as amarras
Por que eu fui embora de mim mesmo
Fiquei vazio, mas Deus quem vive a esmo?
Amaro Nester