Tua
Enquanto o sono abraça teus olhos,
Posseiro dos teus caminhos e vontades.
Pertenço-te sem saber porque, nem como,
Sem explicações e mesmo anonimamente.
Pertenço-te no desejo atrevido e úmido
Que te instiga a imaginação e te dilui a razão.
Pertenço-te quanto mais me negas,
E sei-me tua nos beijos que não me deste,
Nos arrepios que eriçam meu nome em tua nuca,
Nos sussurros que em tua boca acorrentas.
Pertenço-te na indecisão das tuas mãos,
E nas tuas tantas deliberadas recusas,
Nas trilhas que ocultas tuas confissões.
Pertenço-te na distância que me impões
Quando transbordam carícias do teu corpo
E indefeso, clamas para que meu tato adormeça.
Pertenço-te nas entregas que adias,
Nos carinhos que tão bem atas,
E que vais somando aos teus desamparos.
Pertenço-te, quando teu corpo debruça-se
Buscando em meu êxtase, os teus ais.
Pertenço-te no espalmar de tuas ânsias
Quando em teus lençóis, procuras-me
Resgatando-me nos vestígios dos teus sonhos.
Pertenço-te no entrelaçar dos teus dedos tensos,
Quando ainda não presumes minha chegada,
E hesitas em fazer-me teu destino, porto e acalanto.
Pertenço-te, quando te ausentas de ti,
E apenas a saudade de mim te alcança.
Pertenço-te sem horas, sem entender onde
Porque sempre fui tua, antes mesmo de te amar...
Fernanda Guimarães
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