DOMINGO E A MEGALÓPOLE



Numa nesga da pauliceia,
Meio noite meio dia,
Entre spleens e tragos de sinhazinha,
Um homem cheio de ideias,
Siderado de belezas,
Reescreve o ar da avenida.
Céus litorais nas pedras das calçadas,
Maresia mareada nos cafés,
A areia do tempo na concha da mão.

Um catavento gira e gira,
Capta os rodopios das gentes,
Dos raios das bicicletas,
A insustentável leveza do domingo.
Ninfeias de Monet vistas com o pai,
Livros sobre bancos, bolhas de sabão,
No chafariz do Trianon bocas que choram,

Cambucis, jerivás e bromélias, verde refúgio,
Um tocador de flauta, o ruído de patins,

Pássaros nupciais sobre Aretuza branca e nua.

 
O homem não é Mário,
O homem não é Lobato,
O homem nem sabe que é homem.
Só sabe que é poeta,
Sonhador e intemerato,
Que glosa e ama a cidade.


 

A tarde tomba rosa,
Pincela-se de tangerina,
Respinga-se de marinho,
Abraça-se à noite.
No parque escuro, domingo posto,
Aura de abril afagando-lhe o rosto,
Só o poeta e sua poesia
Na pequenina megalópole.



                       

 
        



Imagens:
1 e 3. Parque Trianon, junto à Avenida Paulista (SP)
2.
"Aretuza" , do escultor taubateano Francisco Leopoldo da Silva
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 16/04/2014
Reeditado em 19/04/2014
Código do texto: T4771728
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