FUNERAL DA ESPERANÇA
No reino do faz de conta
quantos terços já rezei,
mas vou aguentando as pontas
neste reinado sem rei,
onde todo mundo apronta
sempre afrontando a lei.
Onde a balança pende
torcendo pelo mais forte,
e o fraco sempre definha,
agoniza até a morte,
tendo o chicote no dorso
e a fé como mascote.
Tendo a prece como escudo,
calos nas mãos como estudo,
só Deus e acima de tudo
sempre atrelado à má sorte.
No reino do colarinho
banhado a caviar e vinho,
o dólar dribla a sentença,
pois faz sempre a diferença
entre o nobre e o proletário,
burlando a vil consciência
fazendo o pobre de otário.
No reino da fantasia
o sonho jaz na utopia,
e a indiferença anuncia
que novos tempos virão.
Por recompensa o castigo
com juros e já corrigido
ira suprir com certeza
a imensa ausência de pão.
Se a educação vem do berço
ai de quem dormiu na esteira,
carente de sombra e teto
sem planos, sem domingueira,
sem ter nem mesmo o da feira
e tornou-se analfabeto.
Onde a vida vale menos
que o ouro negro e o metal,
fica a poesia ferida,
fica o protesto ilegal,
fica o grito sufocado
o sangue inerte talhado
reinando a insegurança.
Uns morrem de tripa seca
sem alcançar a bonança,
outros tão empanturrados
vão deixando seus legados
restando aos pobres coitados
o funeral da esperança.
Saulo Campos - Itabira MG