FUNERAL DA ESPERANÇA

No reino do faz de conta

quantos terços já rezei,

mas vou aguentando as pontas

neste reinado sem rei,

onde todo mundo apronta

sempre afrontando a lei.

Onde a balança pende

torcendo pelo mais forte,

e o fraco sempre definha,

agoniza até a morte,

tendo o chicote no dorso

e a fé como mascote.

Tendo a prece como escudo,

calos nas mãos como estudo,

só Deus e acima de tudo

sempre atrelado à má sorte.

No reino do colarinho

banhado a caviar e vinho,

o dólar dribla a sentença,

pois faz sempre a diferença

entre o nobre e o proletário,

burlando a vil consciência

fazendo o pobre de otário.

No reino da fantasia

o sonho jaz na utopia,

e a indiferença anuncia

que novos tempos virão.

Por recompensa o castigo

com juros e já corrigido

ira suprir com certeza

a imensa ausência de pão.

Se a educação vem do berço

ai de quem dormiu na esteira,

carente de sombra e teto

sem planos, sem domingueira,

sem ter nem mesmo o da feira

e tornou-se analfabeto.

Onde a vida vale menos

que o ouro negro e o metal,

fica a poesia ferida,

fica o protesto ilegal,

fica o grito sufocado

o sangue inerte talhado

reinando a insegurança.

Uns morrem de tripa seca

sem alcançar a bonança,

outros tão empanturrados

vão deixando seus legados

restando aos pobres coitados

o funeral da esperança.

Saulo Campos - Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 09/04/2014
Código do texto: T4762831
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