MEUS TONS DE CINZA
Os anos de chumbo,
as marcas de sangue,
nos porões escuros.
Os mortos,
os enforcados,
os desaparecidos.
A estranheza...
alguns ditadores
atirados no inferno,
outros ditadores
endeusados numa ilha.
Seria o sangue,
os porões escuros,
os mortos,
os desaparecidos,
os tiros ao alvo
dos paredões de lá
diferentes dos daqui?
Onde ficaram os ecos
dos gritos
de Sobral Pinto,
que todo o poder
emana do povo
e em seu nome
deve ser exercido.
Uma pena,
eles ficaram nas imagens
da chamada
de um documentário
de televisão.
Seriam os engravatados
surdos ou esquecidos?
O talento
para a corrupção,
o caminho mais fácil
para enriquecimento,
as barganhas do poder.
A sociedade manipulada
prisioneira dentro de casa,
trabalhando para ser roubada,
muitas vezes, assassinada.
O gosto ruim na boca
de que estamos perdendo tudo,
ficando sem nada
Uma educação precária,
uma saúde estraçalhada,
uma juventude
seduzida pelas drogas,
pelo mundo do crime.
De repente,
estamos substituindo
o abraçar
pelo bater.
O sentimento de impotência,
quase de falência,
de estar na UTI,
ao descobrir
que a rima perfeita
para a criminalidade
é a banalidade.