OPACA
Quero ser fosca e opaca,
Sem verniz, sem goma-laca,
escura e sem brilho
Misturar-me ao crepúsculo
Sem ter, na voz, qualquer brilho,
Ou repetitivo estribilho.
Quero ficar no escuro,
Para enxergar melhor, no céu,
O lume das estrelas verdadeiras,
Que jamais clamam para si
Direitos de brilhar,
Mas que mesmo assim, brilham.
Quero ser fosca e obscura,
Por dentro e por fora,
madeira dura, de árvore forte
Ao sol e à chuva exposta,
Mas sem gorgulhos ou cupins
A comerem-me a alma.
Quero ser fosca e opaca,
De calma imperceptível
Escondida sob o grito d'alma,
As fagulhas sem atritos
Apagando-se no escuro.
Quero ser fosca e obscura,
Quero não deixar resquícios
Nessa terra de loucuras
E de tristes urdiduras
Aonde apagar é obsessão
E brilhar, apenas vício.