DURINDANA
(Sócrates Di Lima)
Corta-me os sonhos pelas entranhas,
Espada sagrada,
Que corta montanhas,
No fio da espada.
Intocável às mãos humana,
Mas, manipulada com o pensamento,
Em incisão proposital e sana,
Esta espada corta o sentimento.
Quando perdido nas entranhas da solidão,
Arrastado no dilúvio do pensamento,
Abre-se fenda no coraçao,
E derrama o amor num efêmero momento.
Como a Durindana,
A saudade rasga o peito,
Deixa escorrer a vontade insana,
Que de outra forma não tem jeito.
Então já náo tenho mais a dor da partida,
Cicatrizada pelo tempo que ao longe jaz,
Banhada em fogo sobre a ferida,
A espada cura a fenda que a saudade faz.
Como a durindana,
Cravo na pedra do meu sentimento,
A vontade eterna de amar um tanto insana,
Para nunca mais sair do meu pensamento.
E assim, empunho a espada Dirindana,
Como guerreiro medieval,
Levanto-a como um facho de luz que emana,
Do amor de alma e do amor carnal.
Literatura
Como descrito em várias obras da chamada Matéria de França, Durindana é a espada do conde Rolando (em italiano, Orlando), recebida de Carlos Magno quando de sua investidura como cavaleiro, aos dezessete anos de idade. De acordo com o poema Orlando Furioso de Ludovico Ariosto, ela pertencera outrora a Heitor de Troia, e tinha sido dada a Rolando por Malagigi (Maugris).
No poema épico A Canção de Rolando, afirma-se que a espada contém, em seu punho de ouro, um dente de São Pedro, sangue de São Basílio, um fio de cabelo de São Denis e um fio da capa da Virgem Maria. No poema, ao perder o seu cavalo, Vigilante ("Veillantif"), e perceber que está ferido de morte numa emboscada dos sarracenos1 , Rolando tenta destruir a espada para impedir que ela seja capturada. Como a espada prova-se indestrutível, Rolando esconde-a então sob seu corpo, junto com o olifante, o instrumento usado para alertar Carlos Magno.
Também existe um personagem da literatura castelhana que personifica a espada. O personagem, chamado Durandarte, está presente nos poemas do "Romancero Viejo" e é famoso por sua relação com Belerma.
Lendas
Existem várias tradições do folclore ligadas ao episódio. Nos Pireneus, na fronteira entre a Espanha e a França há um enorme estreito chamado "Brecha de Rolando" (La Brèche de Roland) que, segundo a lenda, foi aberto por Rolando ao golpear a montanha com a Durindana. Outras lendas pretendem que, ao não conseguir quebrar a espada nas rochas, Rolando acabou por jogá-la no fundo de um rio envenenado. O nome do rio de la Espada, perto de Toledo, recorda essa passagem. Em El Bierzo existe a lenda de que a espada de Rolando encontra-se no fundo do lago de Carucedo, próximo às minas romanas de Las Médulas . Na França, pretende-se que a espada ainda existe, cravada num rochedo em Rocamadour, na Occitânia. Na Dinamarca, conta-se que uma inscrição na espada do herói lendário Holger Danske dizia: "O meu nome é Cortana, do mesmo aço e têmpera de Joiosa e Durindana".
Durindana, também conhecida como Durandal, Duranda e Durindart, era a espada do protagonista de A Canção de Rolando, épico do século XIII baseado em um evento histórico do século VIII: um ataque dos bascos à retaguarda do exército de Carlos Magno em Roncesvales, nos desfiladeiros dos Pirineus.
Segundo a canção, Durindana pertencera ao herói troiano Heitor e fora tomada por Rolando, sobrinho de Carlos Magno, ao gigante Jutmundus. Tinha no seu punho um fio da capa da Virgem Maria, um dente de São Pedro, um fio de cabelo de São Dinis e uma gota do sangue de São Basílio e era inquebrável. Quando Rolando perdeu seu corcel Veillantif e viu tudo perdido, tentou quebrar Durindana, golpeando-a numa rocha, para não deixá-la cair nas mãos dos sarracenos. Não conseguiu e acabou por jogá-la no fundo de um rio envenenado. O nome do Río de La Espada, perto de Toledo, Espanha, recorda a lenda.