Pietá
Decepciono-me ao ver o mapa
E o traçado final estampado.
Queria o segredo no cofre guardado
Porque amar é a arte de tentar, de se doar, de renunciar.
Teus amores deliciosos, onde estão?
Agora em meu rosto só a expressão de Pietá,
Minhas mãos vazias pra mostrar.
Nestas noites em que só palavras voam,
E dos meus dedos brotam céus em desalinho,
Giro neste quarto de chão molhado
Tropeço no escuro do caminho.
Nem sombras dos que me pediam
Pra mais alto eu falar.
Nem pontes unindo sul e norte,
Nem em aquarelas vejo teu olhar,
Só um vento que sopra melancólico e forte.
Mas há de haver um ponto sagrado
Onde o mundo possa ser ancorado
E viver em harmonia
O sonho pela vida sonhado.
Onde o sol bronzeie a pele
Onde a semente germine
Onde a realidade sorri.
E a vida, preciosa, se ilumine.