Poema 0088 - Não me ame
Prefiro que não me ame agora,
nem nunca mais,
perdi o tato, o gosto do último beijo,
talvez mude, um dia ou nada.
As palavras já não saem da boca,
os sons não remetem aos ouvidos,
fizemos festas sem músicas,
após... meus soluços solitários.
Tentei te amar do jeito de poeta,
amor de beijo, de toques, todos n'alma,
fiquei nas primeiras promessas,
hoje volto para casa, para dentro do meu eu.
Em cada hora uma espera,
em um leito frio sem corpos,
alguma lembrança ficou colada no presente,
até quando sem amor, até quando paixão.
Para que me ouça usei sinais, palavras, gestos,
as mãos já não te encontraram,
cansados, os pés se recusam a caminhar,
só ficaram as pegadas, tuas em mim.
Descobri que a palavra está longe do carinho,
pouco adiantam frases suaves,
nem minhas, nem tuas,
o amor só cresce nas bordas do coração.
Sentimentos não são como paredes úmidas, frias,
o corpo precisa do calor invisível, até do olhar,
deixe que fujam os fantasmas,
te preenchas de paixão, antes e depois de mim.
Tentei ocultar-te a minha solidão,
antes pousada de desvarios,
hoje um coração perdido,
para que me notes, me retiro, não sei até quando.
O vento arrasta recordações para fora do corpo,
furacões de sorrisos, nossos, se vão da boca,
vozes calam, nenhum sussurro mais,
fica apenas minha companheira lembrança.
Meu amor por ti foi tingido de palavras,
me ocupas todo o peito e pedaços importantes,
a levarei até o final, não como simples paixão,
sim como amor, todo ele, meu por ti.
12/12/2004