Por entre catacreses e alegorias
Não achei nervo espinhal
Nas costas de nenhuma cadeira
Nem peixe-agulha pra costurar
Língua-de-trapos, sarapieira.
Boca-de-siri não faz ti-ti-ti.
Menina dos olhos não vira mulher.
Boca de calça de nada reclama.
Briga de casal dispensa colher.
Não é inglesa, nem roxa, nem doce
A conhecida batata da perna.
Macaco de carro não pula no galho.
Nem peixe-elétrico usa lanterna.
Unha-de-fome entende o pão-duro.
Pé do ouvido calçou o tapa.
Olho-gordo não faz regime.
Rim agradece à pata-de-vaca.
Nunca vi na orelha do livro
Nenhum brinco para enfeitar
Nem rabo de olho abanando
Ou miolo mole para enrijar.
Asa de xícara não bate, não voa.
Nó-cego enrola, só dá prejuízo.
Pé-de-cana cresce no bar.
Tonteia, bambeia, perde o juízo.
Pega-ladrão só prende alfinete.
Boca-de-fumo comporta maconha.
Dente de alho jamais sente dor.
São suculentas,marias-sem-vergonha.
Pé de alface não pula na horta.
Não ruge no vaso a boca-de-leão.
Gases presos cumprem sentença
Quando saem soltam rojão.
Cabeça de prego não tem piolho
Nem tem tubarão nos braços do mar
Nem distração no mundo da lua
Nem cheque-voador para pousar.
Pé de mesa não usa calçado.
Pé-de-cabra meia não usa.
Gente esperta não dorme de toca.
Nem chupa a manga da blusa.
Bebi no copo xixi-de-anjo.
Comi com gosto o olho-de-sogra.
Engoli o papo-de-anjo.
Saí de fino do ninho-de-cobra.
Chá-de-cadeira irrita a coluna.
Bicho-preguiça não quer trabalhar.
Deu zebra! Caí do cavalo!
Bala de revólver não dá pra chupar.
Falei abobrinhas, lagartos e cobras.
Engoli a seco sapas e sapos.
Passei um zíper na boca.
Apaguei o fogo-do-rabo.
Tem perna-de-pau que pula miúdo.
Pisa em ovos, no quiabo escorrega.
A justiça sofre de gota-serena
Talvez, por isso, seja tão cega.