Traição fatal
A lua lambendo o céu,
cuspia luz na cidade,
descendo o branco véu,
—seu cinto de castidade—,
sobre o teto de Cordeiro,
o ilustre fazendeiro
daquela localidade.
Um mar de felicidade
quebrava ondas no chão,
espalhando a claridade,
lá, dentro do coração
daquele homem pacato,
que, de direito e de fato,
era um grande cidadão.
Dono da bela mansão
e de toda a cercania,
não escondia a paixão
por sinhá, dona Maria,
prometida em casamento
herdeira, por testamento,
de tudo o que queria.
Ela tinha a serventia
de toda a propriedade:
Cada cria que nascia
era dona da metade.
Só bastava para tanto
viver vestida no manto
da santa fidelidade.
Por uma fatalidade,
na noite de São João,
apareceu na cidade
um valente garanhão;
Um formoso cavaleiro,
que, pela voz e o cheiro,
era o anzol da traição.
Por ser de bom coração,
cordato e hospitaleiro
e não saber dizer não,
mesmo pra um forasteiro,
O moço foi convidado
e recepcionado,
na voz do próprio Cordeiro:
—Vá entrando, companheiro!
E, com a mão estendida,
deixou-o entrar primeiro,
acompanhando em seguida.
ofereceu honraria,
que até sinhá Maria,
ainda hoje duvida.
Serviu-lhe a melhor comida,
vinho tinto, parmesão...
A mesa mais guarnecida
e mais perto do salão.
Foi dele a primeira dança,
que inaugurou a festança
da noite de São João.
Passa fogueira e balão,
milho verde, vinho quente...
vai pamonha! vai quentão!...
Quando algo diferente
no coração de Maria
-uma espécie de agonia-,
aconteceu de repente.
Maria, que era crente,
rogou por todos os santo,
mordeu a língua no dente,
sentiu despir-se do manto
da santa fidelidade.
_Deus me tenha piedade!
Pensou, enxugando o pranto.
Mas, para o seu acalanto,
Cordeiro apartou a dança;
Segurou Sinhá no canto,
pela mão da aliança:
—O que foi, minha princesa?!
Maria teve a certeza
da sua desconfiança.
Já não era mais criança,
sabia o acontecido
e temia por vingança,
caso traísse o marido.
Mas tomara a decisão
de entregar seu coração
e seu íntimo gemido.
Falou, de modo fingido,
no ouvido de Cordeiro:
—Boa noite meu querido,
hoje vou dormir mais cedo.
Vou deixar a luz acesa,
(do abajur sobre a mesa)
pois sabes que tenho medo.
Beijou-lhe os lábios nos dedos
e recolheu-se na cama,
ainda ouvindo os folguedos
e o farfalhar das chamas.
Entregou-se ao abandono
e logo pregou no sono
seus olhos de bela dama.
Fazendo justiça à fama
de ser grande anfitrião,
Cordeiro só pôs pijama
no calar do lampião,
quando todos convidados
estavam acomodados
no conforto da mansão.
Sem chamar a atenção
do marido ou do criado,
em completa escuridão,
(em busca do convidado)
saiu, Maria, ansiosa...
perfumada como rosa,
com seu desejo acordado.
Ia entregar-se ao amado,
sua paixão repentina.
Abriu a porta do lado...
A intuição feminina
serviu-lhe de estrela guia,
enquanto a paixão batia
no seu pudor de menina.
Abriu, um tanto, a cortina
ao testemunho da lua.
A bela lua Junina,
que a poesia cultua.
Num instante de magia,
despiu-se, então, Maria,
deixando a beleza nua.
—Eis-me, aqui... sou toda tua!
Sussurrou ao travesseiro.
—Me ofereço nua e crua
à fome do cavaleiro!
Mas a traição foi malvada!
Lá dormiam, de mão dada,
o garanhão e Cordeiro.
Fosse o cordel verdadeiro,
seria um conta de fada.
A lua lambendo o céu,
cuspia luz na cidade,
descendo o branco véu,
—seu cinto de castidade—,
sobre o teto de Cordeiro,
o ilustre fazendeiro
daquela localidade.
Um mar de felicidade
quebrava ondas no chão,
espalhando a claridade,
lá, dentro do coração
daquele homem pacato,
que, de direito e de fato,
era um grande cidadão.
Dono da bela mansão
e de toda a cercania,
não escondia a paixão
por sinhá, dona Maria,
prometida em casamento
herdeira, por testamento,
de tudo o que queria.
Ela tinha a serventia
de toda a propriedade:
Cada cria que nascia
era dona da metade.
Só bastava para tanto
viver vestida no manto
da santa fidelidade.
Por uma fatalidade,
na noite de São João,
apareceu na cidade
um valente garanhão;
Um formoso cavaleiro,
que, pela voz e o cheiro,
era o anzol da traição.
Por ser de bom coração,
cordato e hospitaleiro
e não saber dizer não,
mesmo pra um forasteiro,
O moço foi convidado
e recepcionado,
na voz do próprio Cordeiro:
—Vá entrando, companheiro!
E, com a mão estendida,
deixou-o entrar primeiro,
acompanhando em seguida.
ofereceu honraria,
que até sinhá Maria,
ainda hoje duvida.
Serviu-lhe a melhor comida,
vinho tinto, parmesão...
A mesa mais guarnecida
e mais perto do salão.
Foi dele a primeira dança,
que inaugurou a festança
da noite de São João.
Passa fogueira e balão,
milho verde, vinho quente...
vai pamonha! vai quentão!...
Quando algo diferente
no coração de Maria
-uma espécie de agonia-,
aconteceu de repente.
Maria, que era crente,
rogou por todos os santo,
mordeu a língua no dente,
sentiu despir-se do manto
da santa fidelidade.
_Deus me tenha piedade!
Pensou, enxugando o pranto.
Mas, para o seu acalanto,
Cordeiro apartou a dança;
Segurou Sinhá no canto,
pela mão da aliança:
—O que foi, minha princesa?!
Maria teve a certeza
da sua desconfiança.
Já não era mais criança,
sabia o acontecido
e temia por vingança,
caso traísse o marido.
Mas tomara a decisão
de entregar seu coração
e seu íntimo gemido.
Falou, de modo fingido,
no ouvido de Cordeiro:
—Boa noite meu querido,
hoje vou dormir mais cedo.
Vou deixar a luz acesa,
(do abajur sobre a mesa)
pois sabes que tenho medo.
Beijou-lhe os lábios nos dedos
e recolheu-se na cama,
ainda ouvindo os folguedos
e o farfalhar das chamas.
Entregou-se ao abandono
e logo pregou no sono
seus olhos de bela dama.
Fazendo justiça à fama
de ser grande anfitrião,
Cordeiro só pôs pijama
no calar do lampião,
quando todos convidados
estavam acomodados
no conforto da mansão.
Sem chamar a atenção
do marido ou do criado,
em completa escuridão,
(em busca do convidado)
saiu, Maria, ansiosa...
perfumada como rosa,
com seu desejo acordado.
Ia entregar-se ao amado,
sua paixão repentina.
Abriu a porta do lado...
A intuição feminina
serviu-lhe de estrela guia,
enquanto a paixão batia
no seu pudor de menina.
Abriu, um tanto, a cortina
ao testemunho da lua.
A bela lua Junina,
que a poesia cultua.
Num instante de magia,
despiu-se, então, Maria,
deixando a beleza nua.
—Eis-me, aqui... sou toda tua!
Sussurrou ao travesseiro.
—Me ofereço nua e crua
à fome do cavaleiro!
Mas a traição foi malvada!
Lá dormiam, de mão dada,
o garanhão e Cordeiro.
Fosse o cordel verdadeiro,
seria um conta de fada.