Escárnio
Rejeito o beijo
do maldito verbo amar
Expulso-o do meu tétrico coração
Longe de mim sentimentos
que me falem de amor
Estou avessa aos sorrisos
Apago das retinas o encanto da lua
Não quero mirar estrelas
Sinto náuseas ao ver o brilho do sol
Não sou poeta !
Não sou artista !
Anarquista talvez !
Longe de mim aplaudir a patética alegria
Rasgo o véu da saudade
Sinto-me nua
Arranco do recôndito da alma
todas as teias sujas da paixão
Enquanto o sol não se pôr
não vou conjugar os verbos doces
Não combinam com minha dor
Abraço calidamente a ira
Aconchego-me em seus braços
Quero dormir em um travesseiro de espinhos
para acordar na companhia da dor
Sentir todo o travo da vida
Percorrer os árduos caminhos da desilusão
Enaltecer a infelicidade
por simples escárnio
Cansei das falsa doçuras
Quero degustar o fel da vida
pelo prazer de ser amargo
Beber o veneno das horas cruéis
Vomitar no fétido mundo das ilusões
todo o meu rancor
Quero provar ao ingrato destino
que jamais me curvarei aos seus pés
Custe o que custar !
16/06/2003