GLAUBERIANA

I — DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL (1964)

O sertão vai virar mar. E haverá

Na terra o céu, promete Bastião.

Logo, em plantando, tudo se dará.

Manuel quer somente ter um chão.

Seu chão já o têm Corisco e Dadá.

Antonio quer dar-lhes cabo. O sertão

Vai vir armar o homem e a revol-

Ta contra Deus e contra o diabo: Sol.

II — TERRA EM TRANSE (1967)

Em transe. Turbilhão, redemoinho.

Fome de absoluto, essa cobiça

De tudo, esse marchar contra o mesquinho

Possível. Poesia insubmissa:

Paulo-mártir-poeta em desalinho,

Triunfo da beleza e da justiça

Vocifera, arma em punho, louco (b)erra:

Versos (ou sangue?) pingam sobre a Terra

III — O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO (1969)

Quem Dragão da Maldade, quem o Santo

Guerreiro? Que será o Matador

De Cangaceiro? Já não mostra tanto

Fervor em matar: outro o seu valor?

De que lado estará seu desencanto?

Coronel, delegado, professor:

Se o povo passa fome, vive sem,

Abram-se, para o povo, os armazéns.

IV — CABEZAS CORTADAS (1970)

Dias de decadência e de martírio.

Ditador em ruínas e o Ceifeiro

Cortador de cabeças e de lírios.

O cego, o paralítico, romeiros.

Cavalo a relinchar: Diaz, Porfírio.

Lama por dentro e por fora: atoleiro.

Refocila-se o Rei, sonha ascender.

É dourado o delírio do poder.

(Do livro MEMORIAL BÁRBARA DE ALENCAR & OUTROS POEMAS)