O artista e o espelho
Prepara-se o artista
Com um espelho diante
O show é preciso, é a vida
E a vida segue adiante
Mas sua imagem lhe mira
E diz: Farsante, Farsante, Farsante
Farsante, mas claro, que tolo
Que fala mais irrelevante
A arte é ilusão, fantasia
Também chora o comediante
Mas diz-lhe a imagem soturna
Farsante, Farsante, Farsante.
Imagem, desprezo sua voz
Só me vale que fiques elegante
Todo resto é a fútil plateia
Que anseia só pelo instante
Mas com olhar fixo diz-lhe a imagem
Farsante, Farsante, Farsante
Só te olho, oh imagem nefasta,
Para arrumar-me de forma confiante
És só algo do qual me uso
Para meu oficio de cativante
E em resposta só escuta
Farsante, Farsante, Farsante
Imagem, que queres de mim
Para trazer-me assim, tão angustiante,
Sua fala tão cheia de asco
Seu odor tão asfixiante?
Descrente a imagem responde
Farsante, Farsante, Farsante
Para, não te olharei mais
Pois não sou um principiante
Sei os caminhos de minha arte
E sem olhar-me me sei fazer radiante
Mas ao desdém com desdém se responde
Farsante, Farsante, Farsante
Pois então, deixo-te imagem
Dou-lhe as costas e sigo triunfante
Meu espelho será o público que me aplaude
Dispenso-te, oh balbuciante.
E se afasta com as palavras a lhe perseguir
Farsante, Farsante, Farsante.