O artista e o espelho

Prepara-se o artista

Com um espelho diante

O show é preciso, é a vida

E a vida segue adiante

Mas sua imagem lhe mira

E diz: Farsante, Farsante, Farsante

Farsante, mas claro, que tolo

Que fala mais irrelevante

A arte é ilusão, fantasia

Também chora o comediante

Mas diz-lhe a imagem soturna

Farsante, Farsante, Farsante.

Imagem, desprezo sua voz

Só me vale que fiques elegante

Todo resto é a fútil plateia

Que anseia só pelo instante

Mas com olhar fixo diz-lhe a imagem

Farsante, Farsante, Farsante

Só te olho, oh imagem nefasta,

Para arrumar-me de forma confiante

És só algo do qual me uso

Para meu oficio de cativante

E em resposta só escuta

Farsante, Farsante, Farsante

Imagem, que queres de mim

Para trazer-me assim, tão angustiante,

Sua fala tão cheia de asco

Seu odor tão asfixiante?

Descrente a imagem responde

Farsante, Farsante, Farsante

Para, não te olharei mais

Pois não sou um principiante

Sei os caminhos de minha arte

E sem olhar-me me sei fazer radiante

Mas ao desdém com desdém se responde

Farsante, Farsante, Farsante

Pois então, deixo-te imagem

Dou-lhe as costas e sigo triunfante

Meu espelho será o público que me aplaude

Dispenso-te, oh balbuciante.

E se afasta com as palavras a lhe perseguir

Farsante, Farsante, Farsante.

Sanyo
Enviado por Sanyo em 29/12/2013
Reeditado em 11/09/2017
Código do texto: T4628911
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