NA MESA DO JUIZ

O juiz abre o processo, analisa,

respira, analisa.

Um vento entra pela janela do tribunal

e vira uma página do processo.

O juiz não repara que pulou uma página.

Ele analisa, respira, analisa.

Começa a compreender melhor,

agora balança a cabeça e coça o queixo.

O juiz parece chegar à conclusão.

O tempo, assim como o processo,

teve uma página oculta

porque o vento entrou pela janela do tribunal

e fez o serviço.

O juiz, convicto da sentença,

manda publicar a sua decisão.

O tempo nunca vai ser julgado,

aquela página que o vento tirou dos olhos do juiz

não cabe análise.

Não há recurso porque a essência é invisível

e a verdade é única.

O juiz não é como o vento

que sabe quando e como intervir.

A decisão é mera convencionalidade anti-poética,

é pura tramitação do ódio de alguém,

manifestação mesquinha da ausência do lúdico.

Portanto, senhor juiz,

assine a sentença inspirado no frio do tribunal

enquanto eu festejo o calor daquela página

que o senhor não tinha condição de julgar.

Ricardo Mezavila

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 29/10/2013
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