NA MESA DO JUIZ
O juiz abre o processo, analisa,
respira, analisa.
Um vento entra pela janela do tribunal
e vira uma página do processo.
O juiz não repara que pulou uma página.
Ele analisa, respira, analisa.
Começa a compreender melhor,
agora balança a cabeça e coça o queixo.
O juiz parece chegar à conclusão.
O tempo, assim como o processo,
teve uma página oculta
porque o vento entrou pela janela do tribunal
e fez o serviço.
O juiz, convicto da sentença,
manda publicar a sua decisão.
O tempo nunca vai ser julgado,
aquela página que o vento tirou dos olhos do juiz
não cabe análise.
Não há recurso porque a essência é invisível
e a verdade é única.
O juiz não é como o vento
que sabe quando e como intervir.
A decisão é mera convencionalidade anti-poética,
é pura tramitação do ódio de alguém,
manifestação mesquinha da ausência do lúdico.
Portanto, senhor juiz,
assine a sentença inspirado no frio do tribunal
enquanto eu festejo o calor daquela página
que o senhor não tinha condição de julgar.
Ricardo Mezavila