Sou tua diversão
O amor que eu te dedico é só o teu brinquedo,
que você leva pra rua, leva pro telhado,
faz dele um bodoque, um estilingue matreiro
e atira palavras-pedra de espantar mal olhado;
o meu amor é só o teu divertimento,
teu passa-anel onde chama toda a gente,
pra me deixar aturdida, em sofrimento,
e ainda sai brincando e rindo, todo contente...
o meu amor é só a tua piada e a tua festa,
é o teu pião, tua pipa, bolinha de gude,
é uma figurinha repetida que já não presta,
é o que você cospe, feito chiclete sem grude;
o meu amor é o teu verso pra passar tempo,
treino, esconde-esconde, tua camuflagem,
só serve pra exercício de letras, cata-vento
rodando de bobeira, mais uma ninguém, vadiagem;
o meu amor é feira, frutas de pomar em laço,
liquidação de polpa estragada e vencida
que tua verve descarta como um bagaço
e pisoteia, tentando um vinho-verso de vida;
o meu amor é só a tua farra e a precisa dimensão,
da mostra do teu poder em mim, cunhado e inscrito,
marcando a ferro e fogo o meu bobo coração,
como eu fosse o pecado mais proscrito.
Ah, meu amado, o amor que te dedico é só a tua folia,
é a força do teu poder de rei, brincando de plebeu,
é a tua desfaçatez de oferecido e sem alforria,
me fere como faca, fincada fundo, no meu eu.