Dor de amar
Muito bem, guria... Veja só onde a gente chegou... Aqui tem feito frio, as folhas ainda não caíram e a vida aperta o peito como faz o vento, se lembra? Você sumiu...
As flores do quintal tem murchado, meu bem. Elas se sustentam no amor, mas tem faltado isso por aqui também. Nem tudo faz sentido, pequena. Eu sei. E, as vezes, coisas acontecem porque apenas precisam acontecer, não é? Sem nenhum motivo extra, sem vontades divinas ou outras mais hipóteses esotéricas. Foi o que você me disse. Eu me lembro bem. Você sumiu sem avisos de despedida...
Crede, meu bem, há de haver amor um dia. Eu sei. E não! Não ria, minha pequena tola! Não há alegria em amar. Amar é dor, é sofrer em vão. Amar é mutilar-se. É torturar a alma e magoar o corpo e magoar a alma torturando a carne.
Sento-me em minha cama e calo-me. Calo-me não por não ter o que falar, mas por preferir fazer-me indiferente. Levanto-me e vou à janela; vejo um parque com rosas vermelhas - exuberantes rosas vermelhas. Lá, há inúmeros fúnebres casais que não são felizes; já se juraram um amor.
Ah, pequena tola, porque esperas por um amor? Se pudesse, não permitiria cruzar meu olhar com nenhum outro. Ser só é não esperar por ninguém, não esperar nada de ninguém e assim, ser realmente livre. Liberdade é não sofrer e então, não amar. Desista. Não há felicidade no amor. Se há felicidade, não há amor; mas se há amor, há de ser triste.