esticar a carne no varal
ascender ao patíbulo com as mãos em apelo, chamando
derramar a cabeleira em sua volta, deixar partir, quem sabe o vento
sempre sorrindo sempre sorrindo
acender uma lâmpada, esticar uma brasa, ampliar o foco do raio laser
crispar os olhos como a única ação possível
chorar de mentira, lágrima carregada pela ventania
sempre sorrindo, sempre sorrindo
mesmo com a maquiagem toda esboroada
as unhas cortadas rente
feito uma funcionária bem comportada
subir ao quadragésimo andar de joelhos
esparramar-se em camera lenta
plasmar-se a tempestade
achar uma seda na inundação
sair correndo nua na Consolação, gritar seu nome
como da última vez no Méier, antes da chuva, depois da colisão das vans
escutar esses discos que só você gosta
estender o os fones
discutir a genialidade imbecil de Wittgenstein
picar os textos
rasgar a carne
defumá-la
por tudo pra fora
esticar num varal
mas você não se toca
você não vem
você nunca vem aqui
tão inútil meu grito e minha beleza
que eu até sorri