Peço
Peço que deixem-me. Peço, encarecidamente, que deixem-me. Mas que deixem-me verdadeiramente. E que me esqueçam, que excluam-me, que me apaguem de toda e qualquer lembrança. Não sabem de mim e por não saberem criam infinitos segredos meus que nem mesmo eu sabia que existiam.
Tenho esperado pra ficar a sós. Eu, comigo mesmo, só nós dois... Queria entender-te ou entender-me... Sei que há alguém que ocupa o mesmo espaço que eu em minha mente, alguém que temo também ser parte do meu eu. Mas nós, tão distantes, poderíamos ser a mesma pessoa? Ora triste, ora sorri, ora mente pra sorrir, ora sorri pra mentir... Como podemos nos libertar dessa incrível prisão que em nós habita?
Não falarei de mim (ou de nós)... Queria dizer, caro leitor, que já não aguento tantas mentiras a meu respeito. Se choro, há de haver exagero; se rio, há de haver falsidade... Não, não funciono para exageros e mentiras. Eu sou eu e funciono por mim, como uma máquina funciona por programações.
Já ouvi dizer até que em meu peito bate um coração ingênuo que ainda não conhece o amor. Quem sabe o que é o amor? Estou confuso. Fumo meu cigarro, apago as preocupações, apago-o, apago-me.
Preciso descansar, preciso deitar-me e dormir. São tantos pensamentos cruzando uma mente quase inexistente que, mesmo querendo, já não posso dormir.
Tenho entrado em desespero ao tentar conhecer gente nova, afinal, sei que, no âmago de toda e qualquer pessoa, há apenas podridão, assim como em nós. Fazes parte de tudo isso e eu também faço. E me enojo de tudo isso; não tento escapar, sei que é inútil... Portanto, não me relaciono, então não me relacione também. Peço que morram, todos vocês, e que me deixem; se não quiserem morrer, deixem que me mate, mas não me chorem lágrimas de falsidade nem tragam-me versos de honraria. Não me amaram em vida, então não me façam em morte; quantos as honras, não as mereço e sei, portanto, dispenso-as.