SOLITÁRIO, COVARDE E INGÊNUO

Agora que tudo é imperfeitamente real, tenho em mim sentimento repleto de medo. Tenho fugido calado de todos os confrontos que a vida tem me proposto; creio que seja ela quem tenta me provar constantemente. Eu só sou um covarde ingênuo.

E riam-me, mas percebo que cada vez estou mais certo de que sou só, de que nasci para ser só. E faço-o. Queria que no mundo existisse a mim e só a mim... Ou então que existissem todos os outros menos eu. Por que devemos coexistir? Não! Eu não quero que tu morras e também não tenho coragem de me matar. Lembre-se, meu bem: eu sou só, ingênuo e covarde.

Ainda não sei bem em qual bar eu perdi minha vontade de viver; em qual dose de lágrima engolida afoguei minha esperança. Afundo-me. Afundo-me em um mundo horrível e incerto, cercado de dores e arrogantes sentimentos de ceticismo... Veja: afundei-me em mim.

As palavras que escrevo voam, na esperança de encontrar alguém que as leia.

Os sentimentos do meu peito escoam, aprisionando-me nessa cadeia.

O que há de errado comigo, caro leitor? Não creio que agora tenhas me visto rimar! Rimas são tão previsíveis, tão exatas, que não podem ser minhas! As palavras sim, se combinam! Elas se rimam. Já eu, eu não me rimo com nada nem ninguém. Eu sou só e sempre serei. E só eu sei, na minha ingenuidade total, o quanto dói não se enquadrar. Seria mais fácil se fosse fútil e 'sequenciavel' - previsível, talvez -, mas não tenho coragem para ousar-me: eu sou só um covarde.