TANTO NADA

O salário parco,

a vida enfadonha,

o prematuro infarto,

a ilusão medonha,

a descrença que habita

a lida da gente.

A boca que mente

pra mente que sonha.

Os planos insanos

da vida cigana.

a morte latente,

a escravidão mundana.

A boca que assopra,

a mão que afana,

a miséria que alastra,

a fome que esgana.

A placa que adverte,

o radar que multa.

O que nos diverte,

o que nos insulta.

A ladeira, a enxurrada,

a escadeira quebrada,

a gente perde tudo

e já nem tinha nada.

A nudez e o terno,

a lata vazia,

o céu, outro inferno,

a mesma agonia.

A retina embaçada,

a droga enlatada.

A fumaça inalada,

a forte maresia.

A reza a mandinga,

o milagre, o feitiço,

um beija, outro xinga,

e nesse deixa disso,

a terra abre a boca

à espera de nós,

severina e louca

a calar a nossa voz.

Saulo Campos - Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 08/09/2013
Código do texto: T4472723
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