TANTO NADA
O salário parco,
a vida enfadonha,
o prematuro infarto,
a ilusão medonha,
a descrença que habita
a lida da gente.
A boca que mente
pra mente que sonha.
Os planos insanos
da vida cigana.
a morte latente,
a escravidão mundana.
A boca que assopra,
a mão que afana,
a miséria que alastra,
a fome que esgana.
A placa que adverte,
o radar que multa.
O que nos diverte,
o que nos insulta.
A ladeira, a enxurrada,
a escadeira quebrada,
a gente perde tudo
e já nem tinha nada.
A nudez e o terno,
a lata vazia,
o céu, outro inferno,
a mesma agonia.
A retina embaçada,
a droga enlatada.
A fumaça inalada,
a forte maresia.
A reza a mandinga,
o milagre, o feitiço,
um beija, outro xinga,
e nesse deixa disso,
a terra abre a boca
à espera de nós,
severina e louca
a calar a nossa voz.
Saulo Campos - Itabira MG