Poema 0057 - Coletânea da minha vida
Velho
Sinto-me velho, meus sonhos estão silenciosos,
aos restantes do mundo, deixei as ladeiras íngremes,
meu sangue já não basta para tantas veias,
o espasmo me entorpece, eu... sonâmbulo.
Disfarce
Meus olhos foram maquiados pelo passado,
vi um rio sobre a ponte,
dicionário sem palavras,
dois peitos sem coração: o meu e o teu.
Carne
Dar-te-ei a casca do corpo que te deseja
e todos os cheiros de tesão a impregnar a alma.
Troco a mera dor pela dor do gozo,
até ejacular segredos dentro da tua carne.
Morte
Guardarei o segredo da minha morte até à morte.
Não quero as tréguas do ateu diante do santo.
As rezas, fi-las ontem, hoje, com dureza de pedra...
As lágrimas? Deixei-as no teu travesseiro, enxugue-o.
Alusão
Celebrei amor nas minhas poucas paixões.
Há uma derradeira mulher. Deverá ser a próxima...
O crepúsculo é um sonho irreconhecível, só meu.
Meu espírito é lenda... meu eu... pedaços...
Ilusão
Tentarei sorver os líquidos do teu amor,
morderei teus gostos até arrancar partes de vida,
voltarei meus sonhos até à infância,
com o mesmo corpo, a mesma boca, até que ouça... amo!
Ruas
Tenho caminhos internos traçados em teu corpo,
pavimentei tua pele com saliva, dentro e fora,
deixastes teus tesouros à prova, fui sal, fui doce,
caminhei contigo sonhos verticais, fui teu.
Poeta
És a estrofe superior do poema.
Mudam as frases, letras,
que transbordem os parágrafos...
Tua sensibilidade altera meus desejos,
só me resta escrever na capa do livro: te quero.
Escuros
No amor de sombras, não vejo cores,
o cinza está corroído pelos sentidos.
Nenhuma boca! O beijo não quer encontrar outra...
Regresso às tuas mãos para que me guies.
Procura
Vais me encontrar no canto de todas as salas.
Percorras meus rastros em volta do teu corpo.
Quando vieres... Quisera saber pedir mais para ter-te.
Traz mais caminhos, assim, poderemos seguir amando.
23/11/2004