Poema 0056 - Em uma noite destas
Freqüento teu corpo com sentimentos externos de amante,
abandonado no meio da noite, deixo-te recordações gulosas,
uma espécie de mistura colhida da ebulição dos corpos,
sensações próximas de uma individualidade quase virgem.
A paixão é exoticamente estimulada,
a mesma que beira cada lado da estrada,
somos oriundos de uma escola de famintos,
timidamente ignoramos nossas vestes tradicionais.
Preparo-te, ensino-te segurança íntima de um amor forte,
em um último gesto, toco teus olhos entreabertos,
mistura compenetrada de uma curiosidade eloqüente,
que nos escolta assíduos como anjo de guarda.
Nossas noites são jornadas inteiras de futuro,
nenhuma força nos impede,
almas, espíritos são glorificados,
como que em uma ante-sala do prazer.
Seguindo noite adentro exaltamos nossos vícios,
provoco sua libido, lançadas profundamente,
teu corpo recebe convicto minha língua,
a saliva quente brilha quando espalhada sobre a pele nua.
Um estranho impulso prende solidamente um ao outro,
mergulhamos em uma onda láctea de gozos,
acontece um último aperto mais rijo,
urros ecoam dentro das bocas, enquanto as peles queimam.
Formas paralelas de sombras alinham-se sobre a cama,
lado a lado, braços, pernas, corpos em curvas desarticulados,
os entusiasmos descansam por longos minutos,
apagam-se os fogos, as luzes, adormecem os desejos.
N'outras partes os sentimentos afloram entusiastas,
almas comungam silenciosas em cada pedaço do sono,
a respiração aumenta com o avanço dos pensamentos,
aparece um meio riso espetaculoso nas bocas satisfeitas.
Guardei na imaginação uma fotografia estática desta noite,
atração concebida e concedida completa nossa afeição,
nenhum pesar aparece nos rostos limpos de culpas,
fácil reconhecer mordaças, calando gritos destemperados.
Amanhece, novamente somos amantes comuns,
momentos de prazeres ainda estão presentes nos olhos,
um foco invisível, rodam palavras soltas sem nexo,
o ar ficou contaminado com um misto de amor e paixão.
23/11/2004