Voares
Longas noites
de luz solitária
se seguiram
enquanto toda ausência
era sangue,
corrido das veias
e tudo mais que me
se deitava ao lado,
era só comigo.
Tanto tempo
de sono acordado
e sonhos dormentes
passou,
dessas noites ao lado,
a madrugada inteira,
enquanto em amanheceres,
nem sempre de sol,
acordávamos.
Eu tive até
tardes de verão
nas fagulhas de sol nascente
e não nego
que flores beijavam
os jardins das primaveras
enquanto os versos
de frio
desfolhavam meus cadernos.
Entretanto,
nenhuma estação
me levava pra longe
do lugar comum
e nenhum dos meus dez tinos
que arrasavam de razão,
me excluíam da certeza
de se ir e vir
da ignorância.
Hoje, em dia, ganho
de presente,
uma noite de sono
embalado.
Bem no meio,
no chão do colchão,
enquanto como anjo
eu durmo
sem pecado nem virtude,
sem passado nem futuro.
Agora, aqui,
tudo que desperta em mim
um pôr de sol
está no azul celeste do céu
e ao alcance do meu vôo,
sempre,
enquanto com o coração
eu bato as asas.