As feridas que fazem o vento
Como se a noite fria fosse sua audiência,
o vento uivava com raiva, fez sua reverência !
Aqui não existem planos, voamos por onde for !
Se virmos centelhas ao ar, fazemos arder com torpor.
Se o sol aquece por fora, a noite o faz por dentro.
A não ser quando sangram abertas, as feridas que fazem o vento.
Cada pedaço de carne, da alma, do ser !
Esperava a ventania passar, mas não queria entender.
E tão escura quanto uma mente perdida no espaço,
A noite ouvia atenta, o vento fazer estardalhaço.
Lembranças voavam, os medos surgiam !
- Quanta bagunça ! Assustadas, as criaturas já diziam.
E só um vento soprou pela noite,
o mesmo vento vai soprar amanhã.
E como espera que o escuro volte,
o sol faz sombra pela manhã.
O que era medo agora é lembrança,
bastou um vento fazê-lo voar,
o dia não nasce e o tempo não voa,
se pararmos de assoprar.