COMUNHÃO
COMUNHÃO
O eremita escreve seus poemas
À luz de velas
Do alto da pedra
Corpo e poemas toscos
Esquecidos pelo cinzel
Tudo foi sacrificado e esquecido
O que resta é o que existe
Memórias e silencio
O vento canta sua melopéia
O homem exposto ao tempo
Sua boca guarda diamantes
Que garimpeiro algum possuirá
No alto da pedra
A pedra do coração
Altar de imolação
Braços abertos, captura a chuva
Recebe no peito a borrasca
Abraça-se como se afagasse a alma
Raios rasgando a noite
Olhos rudes cirzem a escuridão
De pé sobre a rocha do coração
Caminhando ereto e dilacerado
Rugindo versos
De encontro a chuva e vento
Que os carrega para o limbo, esquece e volve
Sobre a rocha à cata de outra dor
O homem é, todo ele, busca incessa
Que não entende as próprias arestas
Em busca de Deus, açoitado pela chuva
E ventania, cai sobre a terra
Que, tal seu coração, mistério encerra.
Mãos crispadas, rosto tenso
Possui a terra
Que recebe seu corpo
Parte sua há muito ausente
Cessa a chuva, findam poemas
O homem namora estrelas
Ergue-se, rude remanso curioso
Ao distante, tremulam as velas
O eremita caminha em paz
De novo comungado à natureza