Poema 0049 - Sete versos da minha morte
Transformei-me exatamente no que não sonhei,
no querer recomeçar fui barrado,
nenhum céu azul me aceitou,
pareço estar vestido de vermelho inferno.
Desarmado... construíram muros ao meu redor,
apuradora de pecados e pouco comuns
algumas luzes penetram a alma por frestas do peito,
nego todos os meus erros, até o mais sensato.
A solidão chega cedo, com manobras perfeitas invade,
dera fim à festa de todos os meus amores,
uma vertigem branca me cobriu os olhos, depois a cabeça,
instintivamente meu coração parou no peito.
Poderia sonhar, mas já não durmo,
poderia crer, mas não tenho Deus,
poderia voltar, se soubesse o caminho,
poderia dar a mão, mas fostes embora.
Abriam-se as verdades para dividirem os prazeres;
meia-noite, hora de doutrinar os não amantes,
pelos discípulos do inferno são arrastados pelas mãos,
sombras voltam sobre suas cabeças até desaparecerem.
Muito depois, a névoa anuncia um amanhecer tardio,
sombras são esbranquiçadas pelo calor dos amantes,
nas camas acordam os corpos, lado a lado, reaparecem nus,
todos os olhos se beijam, todas as bocas choram alegrias.
Meus mundos parecem novos, não há mais penitentes,
os sabores foram divididos igualmente em cada corpo,
veio o beijo, o gosto da despedida, o amargo já não existe...
ainda marcadas, levanto as mãos espalmadas e louvo a morte.
19/11/2004