O Criador Escravizado
Recusei tudo o que me contaram ser a Verdade,
Meus olhos quixotescos diluíram todas as formas,
Tragédias e comédias trituradas no moinho ébrio
De meu pensamento, retalhei meu próprio pensamento,
Desmembrei a mim mesmo como tudo o que vi e ouvi,
Todas as palavras que me disseram,
Tudo o que foi suposto que sentia,
Foram feitos em pedaços, ladrilhos de trevas e luz,
De morte e vida, semeados no acaso, fluxo extirpado no vazio
Formando um mosaico poético ambulante desesperado de vida,
Voraz como o tempo, lúgubre como a morte, falso como a felicidade,
Convicto como o ódio, fatal como o amor, sublime como a dor;
Violei o lacre que aprisionava Morfeu em meus sonhos,
A pálpebra do inconsciente foi aberta para a ilusão que chamam de real,
Âncoras jorraram de meu ser em inúmeras direções despedaçando-me,
Fincando partes de mim em tudo que amo,
Tudo que rouba a mim de mim mesmo,
A eficácia da morte tornou-se matéria-prima dos sonhos lúcidos
E assim o assombro da certeza tornou-se ineficaz,
A insuficiência de existir engendrou a ânsia pela volúpia
Um combustível de loucura suficiente para consumir-se em deleite
Tornando as questões existenciais inutilizáveis,
Pois essa interseção de ilusões abriu um leque infindo de prazeres
Que fez de mim o escravo de sensações criadas por ilusões,
Escravo que sempre fui,
Fez de mim o Criador das ilusões que fabricam as sensações
Prazerosas e torturantes,
Fez de mim o Deus e o Diabo que não sabia que era
Ou não sabia ser.