O Criador Escravizado

Recusei tudo o que me contaram ser a Verdade,

Meus olhos quixotescos diluíram todas as formas,

Tragédias e comédias trituradas no moinho ébrio

De meu pensamento, retalhei meu próprio pensamento,

Desmembrei a mim mesmo como tudo o que vi e ouvi,

Todas as palavras que me disseram,

Tudo o que foi suposto que sentia,

Foram feitos em pedaços, ladrilhos de trevas e luz,

De morte e vida, semeados no acaso, fluxo extirpado no vazio

Formando um mosaico poético ambulante desesperado de vida,

Voraz como o tempo, lúgubre como a morte, falso como a felicidade,

Convicto como o ódio, fatal como o amor, sublime como a dor;

Violei o lacre que aprisionava Morfeu em meus sonhos,

A pálpebra do inconsciente foi aberta para a ilusão que chamam de real,

Âncoras jorraram de meu ser em inúmeras direções despedaçando-me,

Fincando partes de mim em tudo que amo,

Tudo que rouba a mim de mim mesmo,

A eficácia da morte tornou-se matéria-prima dos sonhos lúcidos

E assim o assombro da certeza tornou-se ineficaz,

A insuficiência de existir engendrou a ânsia pela volúpia

Um combustível de loucura suficiente para consumir-se em deleite

Tornando as questões existenciais inutilizáveis,

Pois essa interseção de ilusões abriu um leque infindo de prazeres

Que fez de mim o escravo de sensações criadas por ilusões,

Escravo que sempre fui,

Fez de mim o Criador das ilusões que fabricam as sensações

Prazerosas e torturantes,

Fez de mim o Deus e o Diabo que não sabia que era

Ou não sabia ser.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 30/07/2013
Reeditado em 29/11/2023
Código do texto: T4412109
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