A LENDA DO CAVALEIRO SEM RUMO
Lá vinha o cavaleiro montado em seu ginete:
Onde vais cavaleiro, assim, tão depressa?
Vou gozar liberdade.
Mas não tens um destino, uma rota, uma meta?
E liberdade lá tem meta, caminhante?
Vou gozar liberdade, liberdade liberta.
Vou nadar qualquer rio.
Vou topar qualquer praça.
Liberdade, caminhante, não tem meta.
Liberdade tem vento
a soprar nosso peito.
Tem respingo de lama
a sujar nosso rosto.
Tem, enfim, tudo aquilo
que queremos no agora.
E no amanhã, cavaleiro,
liberdade não pensa?
Amanhã? Liberdade sem rumo
colhe os frutos do campo
pro desejo do agora.
Para que pensar no amanhã?
o gozo dispensa empecilhos!
Liberdade, caminhante,
e gozo sem reticências!
Então vai, cavaleiro.
Vai gozar liberdade.
Manda-me lembranças
de suas venturas. Voltando,
traz um pedaço
do vento ligeiro
que leva sem rumo
você e seu tino.
Vai lá, cavaleiro, eu torço por ti.
Mas o cavaleiro jamais retornou.
Um vento me disse que o tal cavaleiro,
gozando, voraz, liberdade sem rumo,
foi ter num deserto de terra distante
chorando a carência de triste prisão.