Tempos imberbes.
O tempo é sagaz, arteiro com saci,
sagaz como dama do cais,
matuto como o sangue que sabe suas veias se cor.
sabe das coisas, dos ventos, do sangue das marés,
é criatura alada afronhada em Deus.
O tempo nos atura, nos desgasta, nos afina,
deixa os passos a serem dados menos órfãos,
faz das fagulhas do sono menos rebeldes, menos desafinadas.
O tempo tira a fome, acerta na mosca, aflora no gozo,
mostra que tem vértebras coesas, que sabe por onde anda nossa fé,
é íngreme sem ser seco, é escasso se tornar graúdo,
um tanto imberbe, um tanto saciado, um tanto miado,
o tempo sabe de quem tiramos os risos, de quem roubamos nossos segredos,
é fiel servidor dos parcos medos que ainda tivermos a cumprir,
pode ser que um dia se canse de nós e mande-nos à rua,
faça-nos andarilhar feito mula perdida do ninho,
faça-nos engatinhar de novo buscando o ventre que nos chutou pra fora,
então, por certo, entenderemos que as horas nunca correram de nós
e que sempre tivemos a nossa alforria à nossa espreita num canto qualquer
das nossas vidas,
a gente só não quis ver.
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