Tempos imberbes.

O tempo é sagaz, arteiro com saci,

sagaz como dama do cais,

matuto como o sangue que sabe suas veias se cor.

sabe das coisas, dos ventos, do sangue das marés,

é criatura alada afronhada em Deus.

O tempo nos atura, nos desgasta, nos afina,

deixa os passos a serem dados menos órfãos,

faz das fagulhas do sono menos rebeldes, menos desafinadas.

O tempo tira a fome, acerta na mosca, aflora no gozo,

mostra que tem vértebras coesas, que sabe por onde anda nossa fé,

é íngreme sem ser seco, é escasso se tornar graúdo,

um tanto imberbe, um tanto saciado, um tanto miado,

o tempo sabe de quem tiramos os risos, de quem roubamos nossos segredos,

é fiel servidor dos parcos medos que ainda tivermos a cumprir,

pode ser que um dia se canse de nós e mande-nos à rua,

faça-nos andarilhar feito mula perdida do ninho,

faça-nos engatinhar de novo buscando o ventre que nos chutou pra fora,

então, por certo, entenderemos que as horas nunca correram de nós

e que sempre tivemos a nossa alforria à nossa espreita num canto qualquer

das nossas vidas,

a gente só não quis ver.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 05/07/2013
Código do texto: T4374055
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