Lapidação
Euna Britto de Oliveira
–BH, 1989–
Barro em que me esbarro,
O progresso está em vias de trazer
Para perto de nós
Um daqueles prédios que avistávamos ao longe,
Para além da vista próxima da cidade grande...
Agora, nossas janelas laterais
De um lado, dão para um prédio amigo.
Do outro, dão para futuros quartos,
Futuras salas, futuras pessoas...
A troca não foi má!
A vizinhança será boa!...
Haverá vozes,
Haverá bons dias!...
Espera-me a hora macia,
Forrada de azul e alegria,
Puxadores de samba,
Brisas... e não ventania!
Sem minha alegria, o que sou?
Prostração, desolação,
Rio Jequitinhonha massacrado pelas dragas,
Poluído de mercúrio...
Folha murcha de alface
Que nem os coelhos querem...
Desejo minha alegria!
Uma palavra que não é nova se anuncia – Desiderata.
Desidério – eis um nome antigo
Que nunca precisei chamar
Pois nunca conheci alguém que se chamasse assim.
Sonho com pessoas que nunca vi,
Com idades e comportamentos próprios,
Conversas e tudo mais...
E casas desassemelhadas às reais.
—"Há quem não esteja no escuro, mas no claro,
Só que num claro vermelho, entende, mãe?"
Mãe entende tudo!...
O Olho de Deus faz com que o nada crie olhos
E enxerguem, para Ele!
Por que o melhor lugar faria de mim melhor pessoa?
Não! Eu fiquei melhor foi ao ocupar os piores lugares...
Tive de me superar!...
A cidadania é uma conquista
E a harmonia é uma vitória!