Minhas mãos...
E as minhas pobre mãos que já não criam?
Não sabem pintar a natureza, suas cores,
Não desenham céus, nem nuvens imaginam,
Nem alinham, pelas paisagens, as tuas flores.
Riem, mas descrevem dores, arranham poesias,
Se contraem, se retraem, às vezes se intimidam.
Não aplaudem e, se tentam rezar, tornam-se frias.
Não têm razão de ser, nem mais te acariciam,
Evaporam doçuras, não têm vida, energias,
Sequer secam as lágrimas que se avizinham
Estão sem forças, são tão tolas, caem vazias.
Apertam-se sonhos tentando chamar o teu amor,
Unem-se gélidas, entrelaçam suores entre si
E, doloridas, vêem a insensível fuga do calor
Na luz que a alma, um dia, quis roubar de ti.