ESTRADA EU SOU
ESTRADA EU SOU
Já engoli cascalhos,
Respirei poeira
Que assenta na folhagem verde.
Já comprometi visões.
Aceitei na madrugada,
A neblina silenciosa
Que tentava colher saudades
Dos olhos vermelhos da noite.
Já levei muita alegria
Nos passos apressados,
Que compartilhava nos olhos
O brilho do horizonte que chamava.
Já servi de leito à chuva forte
Que levava espera
Ao caminhoneiro,
Que gastava no choro
A lembrança da mulher amada.
Já trouxe o luto negro,
Tanto pelas cores
Como pelo coração,
A perda do ente querido
Que há muito
Usou-me para dizer adeus.
Sim, eu sou estrada.
Estrada eu sou
Pela mata que leva o novo,
O alimento,
A esperança.
Não peço o asfalto negro
Nem cascalho novo.
Quero colecionar o pó
Que me faz conhecer
Cada viajante,
Cada pessoa,
Cada prece, cada oração,
Balbuciada na boca seca
De quem não se cansa
De fechar os olhos
E ir em frente
Estrada eu sou.
Não saberia ser outra coisa,
Nem tentaria mudar meu nome,
Pois todos me conhecem por,
Estrada da...
Di Camargo, 14/05/2013