A MENINA QUE COMIGO BRINCAVA
A MENINA QUE COMIGO BRINCAVA
Domingo a tarde,
Lá estava eu na ciclovia
Para meu passeio normal.
De repente um menino,
De uns 10 anos,
Vinha com certa dificuldade em manter-se em equilíbrio
Cruzou a minha frente,
E eu tive que frear rápido
Para não atropelá-lo.
Imediatamente uma voz feminina
Fez-se ouvir:
- Cuidado filho, peça desculpas ao homem!
Ele, com aqueles olhinhos assustados.
Pediu desculpas do seu jeito
E foi empurrando a bike para o lado certo.
Em segundos a mãe do garoto parou à minha frente.
Desculpou-se e disse que seu filho
Ainda não tinha domínio de como andar de bike.
Disse-lhe que não tinha acontecido nada,
O garoto que tinha se assustado.
Um par de olhos cor de mel fitou-me
De uma maneira surpresa.
Senti a expressão
Mas não me dei conta.
Andei uns metros e ouvi:
- Camargo, ei Camargo!
É o meu sobrenome e parei pra olhar pra trás.
Era a mãe daquele garoto.
- Camargo, né?
Sim, eu disse.
Esse jeito de me chamar
Era do meu tempo de moleque.
Tínhamos uma turma
Que só se identificavam pelo sobrenome.
- Tudo bem com você?
- Não me reconhece?
E começou a rir.
Eu ri meio sem jeito
Querendo mudar minha cara de espanto.
- Sou a Oliveira!
Lembra?
- Silvia Oliveira.
De São José dos Campos, lembra?
Lembrei-me da cidade,
Da turma toda.
Mas a Oliveira era morena, desajeitada
Cabelos compridos, óculos de lentes grossas.
Minha cara de bobo
Foi o suficiente para ela dar uma gargalhada
Que sem duvida era dela.
- Sou eu mesma Camargo!
Hoje sou loira, cabelos curtos, um par de lentes...
Ela desceu da bike e me deu um baita abraço.
Um abraço de antigos amigos,
Fraterno, cheio de saudade,
De uma amizade saudável.
Um banco de praça
Foi palco de lembranças,
De risadas, a procura de outros apelidos.
De outros amigos da época
Que o tempo encarregou-se de levar.
O menino comprou um sorvete,
Ficou na nossa frente
Sem entender o que estava acontecendo.
- Mãe, mãe, quem é esse homem?
- É um amigo da mãe quando tínhamos a sua idade.
Estudamos e brincávamos juntos.
Duas horas foram poucas, foram rápidas
Para a identificação entre amigos.
Estudo, trabalho, casamento, separação
Mudança de cidade, de vida, foi a conversa.
Era a Oliveira reformulada, transformada,
Como pode mudar tanto e para melhor, pensava eu.
O celular dela tocou:
- Oi filha, daqui há pouco estarei aí.
- Camargo, preciso ir agora.
Como amanhã é feriado
Que tal nos encontrarmos aqui amanhã
Nesse banco e horário,
Venha de bike pra gente dar um passeio juntos.
Concordei de imediato.
Amanhã será o melhor feriado do ano.
Senti naquele encontro inesperado
Uma nova amizade nascer.
Um beijo e um abraço de despedida dela,
Despertou algo que nos identificou.
- até amanhã Oliveira!
Di Camargo. 14/05/2013