ASAS DE ANJO
(por falar em Quintana)

Naquele tempo,
eu sentava no muro da casa
que ficava do outro lado da rua
da casa dela.
Sentava ali e esperava
poder vê-la na janela.
Pudera imaginá-la nua,
mas nem isso dava.
Era jovem demais, dez anos,
e antes de possíveis desenganos,
meu coração
apenas imaginava
vê-la sair pelo portão,
saia plissada azul-marinho,
blusa branca, meias soquete...
E ela nem me via sentado
no muro do outro lado da rua
da casa dela!
Pudesse, com ela eu casava,
do jeito dos adultos, com o auxílio
das minhas asas de anjo.