Necessidades desnecessárias

Rompo os elos que me prendem

às necessidades desnecessárias.

Hoje não sujarei as mãos com o sangue dos tablóides

nem cansarei os olhos com as cenas obscenas da ré-vista.

Ando cansado de tanta notícia repetida.

Hoje, quero saber o que a lua

anda fazendo com as roseiras...

Não quero textos, mas texturas.

Vou examinar as folhas das margaridas,

a florescência dos gerânios,

O frenesi de pétalas que se insurge no ipê.

Preciso de outro tipo de cultura

que não seja a dos editoriais.

Não quero saber do polis, quero saber do pólen,

da aurora germinando nas corolas,

dos estames extasiados de sol,

das abelhas e das magnólias.

Preciso dessa paz dos vegetais

que oram com a brisa no ocaso,

cantam nas tempestades

e, quando se rebelam nos quintais,

vestem-se de pétalas e olores.

Talvez um poema me visite

sob a clave de sol de uma cigarra.