Triste sina
Uma briga entre cães e gatos
Interrompe a silenciosa madrugada
Sinto-me invadida
Dilacerada
Meu corpo nu
Desfalece
É como se as unhas
Daqueles felinos
Arrancassem a alva textura da cútis
que jaz inerte sob seus olhos
Caio em silêncio
E o silêncio da noite não é menor que o meu
Em fetal posição
Uma linda, enluarada poça de vida
Derramada sobre o mundo
Escorre
E teus olhos apenas observam passivamente o esvaziar de minhas energias
Minha luz vai-se apagando aos poucos
Para trazer trevas a meu decadente ser
Só um feixe de lua me ilumina
Transpiro
Inspiro renascer
Mas, pobre de mim...
Abraças o gato da briga antecessora ao caos da madrugada
Não mereço o aconchego e abrigo de teus braços?
Estás longe...
E longe de ti termino
Sem sangue...
Sem vida...
Sem cerne de luz e de cor
Sem alegria
Minhas unhas viram pedra
Minhas veias viram lixa
Meus cabelos, fios inertes
Pobre de mim...
Que teria sido,
Não fosse a lua
Ceder lugar ao sol
E este encher a terra, ao leste
de calor e vida?
Fostes embora, dando costas ao destino
Acaso fui eu ou foste tu
Feitor ou escravo do abandono?
A triste sina da solidão só se completa pelo total e irrestrito abandono,
mas eu tive a companhia das estrelas...