óculos
se interponho entre o mundo
e eu, algo que lhe filtre ou que
lhe condene, até mesmo que lhe
dê ares de inocente: se entre o
mundo e eu, coloco uma camada
de verniz, onde vejo não o que existe
mas o que não me deixa triste, ou
paradoxalmente mais feliz: se nego
o que vejo porque não aguento ou
se fura algo que eu supunha, se deixo
grau na minha cara para que eu aguente
a realidade, se guardo algo pra depois,
para que no tempo se dilua, de modo
que não pareça verdade , se arrasto
da memória uma mentira e nos meus
olhos eu interfiro: minha vida não tem sido
vivida, pois esses áculos que do mundo
me escondo, me protege, mas, dos outros,
me deixa longe...