QUANDO NADA MAIS RESTA
só resta
a última metade do resto
um olho que consegue chorar
e outro
que a nada se lança
só resta
uma lembrança cheia de pedaços
que não se procuram
e no escuro absoluto
se perdem e se duvidam
só resta
esta festa que ninguém foi
esta carne quebrada
guardada para sempre
do infinito que consola e cura
um país onde ninguém é cidadão
uma pátria para onde se exilam
as verdades que não mais usamos
só resta
o beijo que se apodrece
o abraço que reforça a renúncia
e todos os carinhos anunciam
uma feia flor que se encolhe ao toque do sol
uma feia flor que some
jurando eternidades à escuridão
só resta
uma ilusão frágil e trincada
que se afasta.