QUANDO NADA MAIS RESTA

só resta

a última metade do resto

um olho que consegue chorar

e outro

que a nada se lança

só resta

uma lembrança cheia de pedaços

que não se procuram

e no escuro absoluto

se perdem e se duvidam

só resta

esta festa que ninguém foi

esta carne quebrada

guardada para sempre

do infinito que consola e cura

um país onde ninguém é cidadão

uma pátria para onde se exilam

as verdades que não mais usamos

só resta

o beijo que se apodrece

o abraço que reforça a renúncia

e todos os carinhos anunciam

uma feia flor que se encolhe ao toque do sol

uma feia flor que some

jurando eternidades à escuridão

só resta

uma ilusão frágil e trincada

que se afasta.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 25/03/2013
Reeditado em 22/07/2013
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