Aos meus inimigos
Quão grato estou ao espírito atento
e aos correctivos que fazem
A cada deslize da minha vida
Lembram-me as fraquezas da alma humana,
Que ensombram os meus passos,
E contrariam as formas de pensar próprias
Que se transformam em verdades em mim
Graças a tão leais inimigos
Eu corrigi-mo, eu cresço
Eis senão, o que não eram certezas
Crescem dentro de mim
E florescem dando razão
À forma de pensar,
Como um moinho que lenta e persistentemente mói o grão duro
Informe e grotesco
E o transforma na leveza da farinha
Que um dia há-de ser pão
Com a mó dos meus inimigos
O grão que germina em mim
Desfaz-se lenta e paulatinamente
E o que um dia foi semente
Virou grão
E o que um dia virou grão
Virou farinha
E no pó saído do grão
Eu sou
Aquele que há-de alimentar
Amigos e inimigos