MORRER

morrer

não é se reciclar

não é se encontrar

nem, anjo eterno, voar

não sei morrer

nem discorrer

infalível por horas ou dias

sobre

nem sob

mas sei que morrer

não é alcançar o outro lado

não é bolinar seu pé

enquanto jura outro amor eterno

a outro tão terno namorado

morrer não é

ser sabatinado por deus e pelo diabo

por alá e seu oposto

por osiris e sua balança

não é se inscrever

para ser a alma da próxima criança

morrer não é passar desta

para a melhor

nem para a pior

é apenas um jeito de estar só

sem capa de chuva

sem plano de saúde

sem canção que acorde

sem nenhum poeta

só e amiúde

morrer é não comer

a menina que deu bola na academia

é não mais preencher

qualquer bilhete de loteria

é não ver

nunca mais o que nunca via

morrer não é se libertar

é apenas desocupar

a matéria

e voltar para sempre

para o mistério que sempre foi:

por milhões de séculos

a mais enxuta definição do nada.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 26/02/2013
Reeditado em 22/07/2013
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