O menino de sua mãe
( é uma homenagem a todos os soldados portugueses e angolanos que morreram na guerra colonial ,sem sentido e fratricida, e às mães, que não dispararm balas, mas derramaram lágrimas de dor suficientes para aumentar as águas do mar que os separavam)
A mãe do soldado
Morreu com a bala que na mata de Angola lhe matou o filho.
Foi numa tarde quente
numa picada
uma emboscada.
Tiros a esmo
a boca das armas…
Arautos da morte
gatilhos no dedo…
O disparar por disparar
apenas por medo
O suor perlava o rosto
a voz do capitão bradava
para ninguém abandonar o posto
E no calor de um dia bonito
soou nos trópicos um grito
e no continente
um frio gélido percorreu na mãe o corpo franzino
e o fez explodir num gemido
de dor indescritível
“ Ó Toino, ó Toino!”
Chamou ela angustiada
mas o Toino não respondeu à chamada
e o eco devolveu-lhe a fala
e lhe revelou
que num trilho
de uma terra distante
quis o destino traçar
a morte do seu filho
Em vigília
e de luto cerrado
aguarda que lhe devolvam o corpo
para repousar no jazigo de família.
Vãs são as esperanças
de quem parte para a guerra
Nesta contenda
perdidos andam todos
da sua condição
Perdidas andam as balas
até acertarem em quem
um dia fora o menino de sua mãe.