SAI, SAIA DO MEU PORÃO !
SAI, SAIA DO MEU PORÃO !
Teve uma época
Que te convidei pra visitar meu porão.
Deixei que voce abrisse alguns dos meus baús,
Desenrolasse paginas de desabafo,
Dores e amores que conservo em potes identificados.
Ate onde permiti
Você voou nos meus segredos.
Com alguns se escandalizou
Com outros você foi solidária.
Deixou lagrimas salpicarem o chão
Numa emoção que me comoveu.
Foi uma amiga que se doou
Com ombro forte que me amparou.
Como símbolo e confiança da amizade
Te dei uma copia do meu porão.
Com uma curiosidade voraz
Vasculhou gavetas,
Experimentou chaves,
Liberou pássaros
Alterou poemas.
A única regra que impus foi:
Que nunca deixasse a porta principal aberta.
Foi em vão...
De repente fui assaltado por outros.
Interessados muito mais na propaganda
No furo de reportagem
Na edição especial
Sendo capa de primeira pagina.
Primeiro foram as lagrimas,
Acompanhada de náuseas,
Ranger de dentes
Num ódio eufórico
Onde a única frase dita foi:
- SAI, SAIA DO MEU PORÃO!
Onde tudo tinha uma ordem, uma cronologia.
Agora era um caos total.
Uma discordância de temas
Nas gavetas erradas,
Chaves que não abriam nem fechavam.
Te convidei numa manha de domingo
Agora te expulso numa tarde de segunda-feira.
Meu porão!
Onde guardo sonhos e segredos
Risos e lamentos
Varais onde eu estendia
Coisas e fatos
Que necessitavam ser quarados.
Porão, onde a psicanalise
Fazia estagio de doutorado
E os pacientes tinham a mesma mascara.
Porão,
Com pouca ou muita luz
Era o ambiente perfeito,
Onde o único ator
Escrevia monólogos e sonetos.
Se entoasse canções
Havia uma melodia a acompanha-lo,
Triste ou alegre
A orquestra era regida
Pelo maestro ator.
Onde o” OSCAR” de premiação
Era anunciado ao final do espetáculo.
As palmas, eu mesmo as retumbava,
Os assovios e gritos de:
- BRAVO! BRAVO!
O timbre de voz era sempre idêntico.
SAI, SAIA DO MEU PORÃO!
Di Camargo, 04/02/2013