A SEMENTEIRA

José António Gonçalves

saberei no momento da sementeira

até onde pode ir a força real

da palavra arremessada

para o centro do poema

não se dispensa a água nem o amor

com que os dedos acarinham a terra

e seguem o seu curso até ao mar

nem há vontade de virar as costas

aos penhascos que lançam as vozes

para a profundeza dos abismos

os homens chegam a solo firme e cantam

na linha do horizonte em que viajaram

na sede de toda uma vida sem respostas

não havia perguntas dizem alguns ao luar

imaginando fogueiras e florestas junto aos riachos

desmemoriados do passado e do futuro

depois recordamos como as eiras precisam do sal

com que se abençoa cada gota de suor

guardado num verso ainda por escrever

e lá seguimos viagem com a luz do coração

às vezes despedaçado pelas distâncias

em busca da casa guardada na lembrança

de outro dia dentro de nós a escurecer

JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES

(inédito.23/03/04)

JAG
Enviado por JAG em 07/08/2005
Código do texto: T41122