Hoje

Muito prazer,

Sou do tempo das não guerras corporais

Sou quem vislumbra fotos de pessoas

Soprando flores aos representantes das forças

Armadas? hoje desfazem as teias.

Minha geração, a última procriação.

Sorria, é menos um inútil na rua,

Apenas não há ruas

Ninguém frequenta mais as estradas ladrilhadas

Hoje, marcadas e borradas

Aos freios bruscos dos carros.

Não sou cientista nem filósofo,

Sou poeta

E ainda sei o que é caligrafia

Tenho os punhos cansados

Na terra de dedos chatos.

Não encontro mais os refis de caneta

Nem as livrarias que aqui havia.

Escrevo detrás das grades

Aqui em meu condomínio

O sol também nasce quadrado,

Estou presamente livre.

Fora daqui não tenho espaço,

O que me restou de calçada

Foi tomada

Pelos panfletos dos fugitivos

Que se escondem nas câmaras em Brasilia

E em todo o resto do mundo.

Cada pedaço que ainda podemos chamar de mundo,

Não nos sobrou muito.

Hoje em dia temos muito,

Nada essencial.

É uma terra de leigos

Que pensam que são sábios

E os sábios não tem vez.

A mídia oprime

O livre pensar,

E todo o pesar

É essa vida desnutrida

Do alimento da sensatez.

Insensatos?

Mas, hoje,

Fome é sinônimo de alienação

Temos os jovens entregues à embriaguez,

Indiferentes aos paradigmas divergentes

Não sabem defender

Suas ditas ideologias

Em argumentos

Sem mostrar os dentes

Ou a estampa da moeda

Com a cara do presidente.

É o perdido mundo governado

Pelos desgovernados,

Controladores,

Por que não

Opressores?

E controlados

Por sabe-se lá quem.

Nesse vai e vem de sentidos,

Bem vinda, metafísica,

Nada quer dizer tudo

E temos tudo que um dia

Os vintages queriam.

Vendemos vintages em milhão,

Usamos os filtros amarelados

Da época dos retratos pincelados

Como heróis e inspiração,

Entretanto

Os ignorantes vendem ideias

Publicam em manchetes

E roda no mundo digital

Toda e qualquer novidade

Que site esporte, política ou religião.

É realmente complicado entender que tudo envolve um conjunto

Para algo acontecer.

pouco vale apenas o fragmento

O ser humano fragmentado

Quer entender as partes,

Mas não sabem como funciona o todo.

Tatuam no peito Revolução.

É o corpo marcado pela falta de ação

É o retrato de lutas perdidas.

Tatuadores e hippies erroneamente comparados.

Os revoltados que mudam o penteado,

Em protesto

Deixa tudo do jeitinho que está.