epitáfio de uma guerra cotidiana

Eu matei um homem.

numa guerra secreta em 1984,

matei um homem de meu próprio pelotão

e eu me lembro de em sua mão encostar

na solidão de um bombardeio

Eu matei um homem.

e nesses quase trinta anos que se passaram

seu fantasma caminhou comigo pela casa,

jantou ao meu lado,

se deitou entre eu e a minha mulher,

e as vezes o ouvia falar pela boca dela

juras de um amor incompreensível

Eu amei e matei um homem,

e a uma quantidade infinita de invernos

eu vejo seu sangue jorrar de todas as mãos

da de minha esposa, de meus filhos, de todo o pelotão

bem sei que o golpe foi deferido pela minha

mas eu paguei o meu preço

meu corpo jaz ao seu lado