MOSAICOS
No resumo do meu silêncio
restou um trem partindo,
uma estação vazia.
Um amontoado de lágrimas
descendo como ondas,
no frio já gelado de abril.
E caminhei pelas ruas desertas,
de outdoors molhados e tristes
vigiando meus passos.
Ali imóveis, e sem piedade,
todos eles me olhavam
quase entendendo minha dor.
Diferente do trem sumindo na curva
eu estava sem rumo,
perdido por descaminhos.
Nem havia percebido
que a chuva fina estava de volta,
a noite também chorava.
Eu era um mosaico
fantasiado pelas luzes da cidade,
atormentado pela separação.
Tentei um novo resumo,
sem a estação, sem o trem, sem a curva,
sem as lágrimas, mosaicos ou descaminhos.
Então percebi ainda mais triste,
que meu diário de verão
havia se rasgado para sempre.
E quando o inverno enfim chegou,
trouxe notícias daquele trem
e da passageira que nunca quis partir...
Seu desejo era de fazer o trem voltar,
da curva nunca existir,
e do verão nunca terminar...