O AVESSO DA FESTA

estavas tão bonita no dia de seu aniversário

que nem se via que os anos lhe chegavam

a olhos nus via-se teu suave contorno

e teu perfume as correntes frescas carregavam

peguei-me tolo sem saber o que dizer-te em tão

agradável noite

consultei meus poucos botões assim, de repente

antes da meia-noite

mas palavras também lhes faltaram em sua sábia mudez

vi que me fugias, luzidia, arredia, pelo vasto salão

valsavas feliz às vistas admiradas dos senhores grisalhos

e das senhoras sem viço

e antes que eu te alcançasse, um braço voraz o fazia,

levando-te pelo salão a custa de licenças e atalhos

logrando sucesso no serviço

e, noite adentro, foi-se a festa

à meia-luz que da lua se empresta

seu contorno suave nem sombra continha

e seu perfume tampouco evanesceu

continuavas tão bonita quanto às dez

enquanto o fulgor das outras, desapareceu

estavas tão bonita no dia de seu aniversário

que, pueril, me desfiz da condição de homem

antes que me fosse chegada a hora

de dizer-te em seletas palavras sobre o que me consome

de dizer-te pouco sobre o que desejo muito

valsavas feliz rodeada por tão deliciada audiência

que o que me restava era marcar presente ausência...