De forma augusta, o Tempo
agacha-se rente à porta.
Café quente, ainda é cedo.
Boceja, espreguiça, ruge!
De que se fazem, as horas?
Pergunta-me resoluto e denso.
Quieta e receosa, respondo...
- Ora, de tempo, tempo, e tempo.
Sim, de minhas veias, tripas,
do coração, minhas partículas,
ansiedade, e todo esvaziamento,
Sabes o que levará delas, às horas?
- Somente, alguns instantes, linimento...
Se teus amados, guardai,
a plenitude dos momentos.
Se tuas histórias, lembrai,
alegrias, sofrimentos.
Não temas agora, partir, ir embora.
Irei contigo a todo e qualquer lugar.
Onde embote suas alegrias,
ou, o universo recrie suas auroras...
Temas apenas um inimigo,
e dele não faça escárnio, fingimento.
Também dele, jamais torne-se amiga.
O pior oponente, famigera-se
nas artérias do esquecimento...
Este poema é dedicado a minha avó paterna, Guiomar R. Casado,
morta em 1993, aos 73 anos, em decorrência do mal de Alzheimer.